segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O ensino da filosofia no ensino médio

Trecho extraído do PCN de filosofia.


 (...) Alguns estudiosos têm chamado a atenção para a “inadequada compreensão” das proposições de Parâmetros e Diretrizes “por parte de significativo número de educadores que atuam nesse nível de ensino escolar”. O motivo da incompreensão, diante de texto cuja linguagem também já foi descrita como “simples, bastante compreensível para os leitores”, não pode estar em alguma deficiência redacional ou cognitiva, mas antes em alguma dimensão retórica do texto. Em primeiro lugar, já foi acentuada certa transformação
retórica de necessidade em virtude, no aspecto da flexibilização. Na mesma linha, poderíamos ler a mera apologia da autonomia e independência, que pode se traduzir em certa ordem de habilidades bastante propícias ao mercado, uma vez que as competências cognitivas e argumentativas vêm dar sustentação “à capacidade de tomar decisões, à adaptabilidade a novas situações, à arte de dar sentido a um mundo em mutação”. Em segundo lugar, ao reduzir o conteúdo filosófico a um mínimo necessário, ao passo que propugna sua relevância para a promoção da cidadania, os documentos satisfazem demandas opostas e se opõem de modo implícito. Dessa maneira, podemos verificar uma dicotomia ou, ao menos, uma perigosa dubiedade, muitas vezes interpretada como jogo retórico.

   Mesmo sem ser obrigatória, vale mencionar, dentre as vinte e sete unidades da federação, em pelo menos dezesseis a Filosofia é disciplina obrigatória na rede pública e em sete a presença disciplinar é opcional.
Muitas escolas da rede particular do país oferecem a disciplina como parte do currículo, em geral, durante um ano. Porém, dada a não obrigatoriedade de Filosofia, não há exatamente um currículo no Ensino Médio, embora
possamos reconhecer algumas linhas de força, sobretudo pela literatura disponível ou por sondagens, realizadas todavia de forma desordenada, sem o devido controle metodológico. Registremos, pois, alguns aspectos
relativos ao currículo de fato trabalhado nas escolas. 

   As “áreas” da Filosofia mais trabalhadas são: Cultura Geral, Filosofia Antiga (surgimento da filosofia), Ética, História da Filosofia, Teoria do Conhecimento, Política. Temas mais trabalhados: Conhecimento, verdade, valores, cultura, ideologia, alienação, sexualidade, condição humana, finitude, liberdade, poder, política, justiça, arte, meios de comunicação. Filósofos mais trabalhados: Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Jean-Paul Sartre, Kant, Marx. Em todo caso, não é possível agora maior precisão na determinação de domínios, temas ou filósofos mais trabalhados no ensino de Filosofia no nível
médio, dada a inexistência de pesquisas em nível nacional a respeito. O resultado do questionário da Unesco, distribuído em 2003 via internet a professores em vários estados do país, parece demonstrar outras indicações. E pode inferir-se, das discussões em nível nacional e trabalhos publicados ou apresentados em encontros, que a filosofia no Ensino Médio resume-se, na maioria dos casos, a debates em torno de temas atuais, com o auxílio de referências filosóficas, o que ajuda a especificar o que é entendido por “Cultura Geral”.

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